O hospital de Maracaí
assumiu lugar de destaque no noticiário regional depois da manifestação de seus
funcionários. Protestavam contra a falta do décimo terceiro salário. No jogo de
empurra-empurra, a prefeitura garantiu o repasse até o fim de dezembro; o
provedor do Hospital afirmou que não tinha dinheiro em caixa. O único salário
religiosamente pago foi o da ex-prefeita.
Onde foi parar o
dinheiro que pagaria o décimo terceiro salário dos funcionários do hospital, do
asilo e parte dos da creche? Esta não é a primeira vez que Walter Reynaldo
envolve-se em discussões sobre o uso do dinheiro público. Seu histórico é
antigo. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) enviou ofício à administração da
dupla Bete & Heber ordenando a devolução de mais de R$ 8.000,00 (oito mil
reais) que Walter Reynaldo, então representante da rádio comunitária Karisma FM,
tinha recebido da prefeitura.
Depois de minuciosa
investigação, a ADPCIM descobriu que o mesmo Walter Reynaldo recebera mais ou
menos R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) durante a gestão Bete & Heber para
produzir trabalhos na área de comunicação (produção, locução, gravação etc). Se
Walter Reynaldo não é jornalista, por que recebeu essa montanha de dinheiro? Mais
recentemente – em novembro de 2012 – o TCE identificou falhas no Hospital de
Maracaí, ordenando que a então prefeita Elizabete de Carvalho comunicasse tais
irregularidades ao provedor Walter Reynaldo, devendo, tanto a prefeitura quanto
o hospital, esclarecer o uso de R$ 2.100.000,00 (dois milhões e cem mil reais).
O que aconteceu com essa montanha de dinheiro sobre o destino do qual o TCE deseja
esclarecimentos?
O fato é simples de
resolver. Primeiro, Walter Reynaldo deve devolver os R$ 40.000,00 que recebeu
para seus “serviços de comunicação”, já investigados pelo Ministério Público. Segundo,
depois da devolução, o dinheiro deve ser aplicado nos funcionários da creche,
do asilo e do hospital. Não é dinheiro suficiente, mas para funcionários que
passaram o natal em apuros, já é grande ajuda. Por fim, a prefeitura deve
promover ampla e minuciosa auditoria no Hospital e no SASSOM, verificando não
apenas a contabilidade e as finanças, mas principalmente investigando se
funcionários e colaboradores, que entraram a partir de 2009, eventualmente multiplicaram
o patrimônio pessoal, da esposa, do esposo, dos filhos, dos netos, dos
bisnetos, dos avós, dos tios, dos afilhados: compraram carros, casas, terrenos,
chácaras? Será que crianças com menos de dez anos de idade já teriam mais de
duzentos mil reais em patrimônio? E, se tiverem, como conseguiram todo esse
dinheiro? Será que alguém que não tinha nada até 2008, repentinamente ficou bem
de vida, expandiu as posses?
O Tribunal de Contas
já sabe que o pente fino nas contas púbicas é um procedimento importante.
Encontrou irregularidades no uso de dinheiro público pela rádio comunitária
Karisma FM quando Walter Reynaldo era seu responsável. Assim como a ADPCIM
também encontrou irregularidades nos “serviços de comunicação” prestados por alguém
que não é jornalista.
Depois da auditoria
nas contas do Hospital e do SASSOM, nos caberá perguntar à dupla Bete &
Heber: o que vocês fizeram com a saúde de Maracaí? Por que as ambulâncias estão
esculhambadas? Por que os médicos abandonaram a cidade? Por que os remédios
desapareceram das prateleiras? Por que o centro de saúde e a creche ficaram
inacabados? Por que deixar os funcionários do hospital e do SASSOM sem décimo
terceiro? Enfim, cadê o dinheiro do povo de Maracaí, Bete & Heber?
Bete & Heber administraram
a cidade por quatro anos. Hoje, sofremos com problemas imensos. Se não tivesse
ocorrido aquele concurso público – denunciado pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo – que empregou vários parentes e correligionários, certamente a prefeitura
teria economizado cerca de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por ano. Um
milhão de reais a serem investidos em saúde: término do centro de saúde,
conserto dos prédios mal feitos, aquisição de remédios, conserto de
ambulâncias...
Mas, por que Bete
& Heber se preocupariam com o povo se seus parentes já entraram – em
concurso público considerado ilegal pelo Ministério Público – na prefeitura? Barato
leitor e aturdido contribuinte, não esquente a cabeça. Enquanto você está se
lascando pela falta de remédios e de ambulância, os parentes e os
correligionários recebem seus bons salários na prefeitura, pagos por você!
***
Na próxima semana,
vamos tratar do concurso público – considerado ilegal pelo Ministério Público –
em que parentes e correligionários de Bete & Heber entraram na prefeitura.
Vicentônio Regis do
Nascimento Silva (www.adpcim.blogspot.com)
é presidente da Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos
Direitos do Cidadão de Maracaí (ADPCIM).
*Publicado
originalmente no jornal O Regional
(Tarumã – SP) de 26 de janeiro de 2013.