segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

CAMÕES, EDUCAÇÃO & CONVERSA FIADA: CADÊ O DINHEIRO DA EDUCAÇÃO, BETE & HEBER?


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o Mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Camões

 

 

Se um terço dos prefeitos, vice-prefeitos e secretários municipais lessem Camões antes de assumirem as prefeituras e suas respectivas funções, certamente teríamos gestões mais eficientes e menos prejudiciais. A equipe da ex-prefeita de Maracaí Elizabete de Carvalho deveria ter lido o poeta já que, na prática, conforme podemos observar, os milhares de reais gastos em bolsas de estudos de pós-graduação em gestão pública (Finanças? Contabilidade? Administração?) tiveram finalidade questionável. Qualquer criança de dez anos sabe que o prefeito deve entregar a prefeitura ao sucessor sem dívidas. Por que a equipe da ex-prefeita, boa parte dela cursou pós-graduação com dinheiro da prefeitura, não fez sua parte?

 

 

Em outubro do ano passado, a população elegeu prefeito, vice-prefeito e nove vereadores. Seguindo Camões, mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades e os eleitores mudaram o modo de confiar. Descobriram que a gestão Bete & Heber deixava muito a desejar e, sem alarde, considerando que “todo o mundo é composto de mudanças”, escolheram líderes com “novas qualidades”. Qualidades são habilidades. Já falamos de concurso público, de saúde e de hospital. Hoje, perguntamos: quais foram as “novas qualidades”, as habilidades que faltaram à gestão Bete & Heber para que tivéssemos educação razoável?

 

 

O principal problema na secretaria de educação foi o de todo o governo de Bete & Heber: transparência. Os leitores provavelmente não devem lembrar, mas alguns anos atrás José Aparecido dos Santos, popular Zeca – combatente e comprometido presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Maracaí – questionou o então secretário Heber a respeito do dinheiro destinado à compra de uniformes escolares. Depois de muita confusão e pouco esclarecimento, compareceu à delegacia de polícia a fim de responder ao questionamento do então secretário Heber. Zeca queria apenas saber – também na qualidade de conselheiro municipal de educação – quanto se gastara de uniforme. A atitude de Zeca foi corajosa. Em nenhum momento se intimidou.

 

 

Se, naquela época, o então secretário Heber tivesse respondido aos questionamentos e esclarecido imediatamente as dúvidas de Zeca, provavelmente a prefeitura de Maracaí não teria, nos dias de hoje, dezenas de dívidas. A secretaria de educação deixou fornecedores a verem navios. Quando assume o compromisso de vender à prefeitura, o comerciante precisa receber, no prazo combinado, o pagamento de suas mercadorias.

 

 

O pagamento da prefeitura pelas mercadorias é o dinheiro que o comerciante usará para pagar seus funcionários (que, diferentemente dos funcionários do hospital, do SASSOM e do asilo, receberam pontualmente seus décimos terceiros salários), as contas de energia elétrica, de água, de telefone, os impostos municipais, estaduais e federais, os serviços de terceiros (encanador, eletricista, pintor, pedreiro, contador) etc. Sem o pagamento da prefeitura, os comerciantes despencam no abismo. Desconheço se as empresas que fecharam contratos com a prefeitura de Maracaí em 2012 – contratos destinados aos assuntos da secretaria de educação – rolaram despenhadeiro abaixo, mas certamente tiveram – e continuarão tendo – grandes dores de cabeça.

 

 

Se considerarmos apostilas, uniformes e transporte universitário “gratuito”, a educação, pelo menos em 2012, transformou-se num problema contábil. Dos uniformes escolares adquiridos apareceram cobradores exigindo do atual prefeito o pagamento de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). Mas, se os uniformes foram comprados na gestão Bete & Heber, por que a dupla não pagou os R$ 50.000,00? Como tinha pouco dinheiro no ano passado, a prefeitura pagou a única coisa importante: o salário da ex-prefeita.

 

 

Como se não bastasse essa surpresa, apostilas da editora Positivo, também compradas em 2012, não foram pagas. Total da conta? R$ 160.000,00 (cento e sessenta mil reais) contabilizados e R$ 70.000,00 (setenta mil reais) não contabilizados. “Contabilizado” significa que a dívida a ser paga consta da lista da prefeitura. “Não contabilizado” quer dizer que não consta da lista de dívidas. Portanto, o que está “contabilizado”, mesmo sem necessidade, será pago. Já o que “não está contabilizado” não será pago. Muito simples: como 2 e 2 são 64.

 

 

Outra conta “não contabilizada” – e, consequentemente, que não poderá ser paga – são os mais de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) do transporte universitário para Marília dos meses de outubro, novembro e dezembro. Se o dinheiro “não está contabilizado”, a prefeitura não pode pagar. Se o prefeito Eduardo Correa Sotana pagar contas “não contabilizadas”, responderá judicialmente pelo desrespeito à lei através de Ação Civil Pública. Ação Civil Pública é algo que a ex-prefeita de Maracaí Elizabete de Carvalho conhece bem: ela responde a algumas na Justiça.

 

 

Você, esclarecido leitor, pode perguntar o que os donos das empresas de transporte universitário e os da editora das apostilas farão para receber os cerca de R$ 120.000,00 “não contabilizados” que certamente lhes causarão prejuízos. Resposta simples: se as contas “não estão contabilizadas”, basta procurar a ex-prefeita e o ex-secretário de educação (responsável pelos assuntos da pasta) e cobrar-lhes explicações e, se possível, os valores. Qualquer contador pode informar que, da prefeitura, não levarão um centavo.

 

 

Camões estava certo: mudam-se os tempos e, graças à perspicácia dos eleitores, Maracaí atualmente possui uma gestão que transfere, como diria o poeta português, “novas qualidades” ao uso do dinheiro público. Daqui para frente, Maracaí deixa de lado a “conversa fiada” para entrar numa nova era. E, por falar em nova era, que tal começarmos analisando os gastos do projeto “Esporte Social”, cuja prestação de contas foi solicitada pelo conselheiro Zeca?

 

***

 

Se tivesse distribuído livros de Camões aos membros de sua equipe em vez de lhes conceder bolsas para cursos de pós-graduação em gestão pública, a ex-prefeita Elizabete de Carvalho teria matado dois coelhos com uma só cajadada: economizaria dinheiro (os livros do português custariam, no máximo, oitocentos reais para toda a equipe) e ensinaria que, antes de contabilidade ou economia, é preciso aprender poesia que, diga-se de passagem, ensina a administrar bem gastando pouco. Nunca é tarde para aprender! Nas palavras de Camões: “Todo o mundo é composto de mudança,/tomando sempre novas qualidades”.

 

 

 

Vicentônio Regis do Nascimento Silva (www.adpcim.blogspot.com) é presidente da Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí (ADPCIM).

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