segunda-feira, 10 de setembro de 2012

PARA ONDE VAI O SALÁRIO DA PREFEITA DE MARACAÍ?


Um das vantagens das eleições consiste no acesso legal às informações patrimoniais dos candidatos. Uma simples visita à pagina do Tribunal Regional Eleitoral na internet permite ao eleitor saber quanto seu candidato arrecadou nos anos de trabalho ou, se candidato à reeleição, quanto o patrimônio aumentou ou diminuiu à frente do serviço público. O site forneceu-me dados sobre Elizabete de Carvalho, prefeita de Maracaí, candidata à reeleição, cujo patrimônio, entre 2009 – ano em que assumiu a prefeitura – e os dias atuais gira em torno de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais). Em outras situações, pouco me importaria o destino das economias de qualquer pessoa, mas Elizabete de Carvalho é caso especial.

 

Caso especial não por ela ser prefeita – milhares de homens e mulheres ocupam o cargo máximo dos executivos municipais – mas por responder a duas Ações Civis Públicas de Improbidade Administrativa que totalizam mais ou menos R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) que devem ser devolvidos aos cofres públicos. Se a memória não me falha, o Ministério Público do Estado de São Paulo não apenas solicitou a devolução do dinheiro, mas também pediu seu afastamento do cargo. A Justiça bloqueou os bens da prefeita, de seu secretário e de um empresário, entretanto, optou por mantê-la nas funções públicas.

 

Em simples cálculo, Elizabete de Carvalho – sem incluir salários de parentes que ocupam cargos sem concurso público – leva mais ou menos R$ 10.000,00 por mês. Se pensarmos nos quarenta e oito meses de governo, são R$ 480.000,00 em quatro anos. Ela já disporia de patrimônio suficiente para devolver o dinheiro que, segundo o Ministério Público, usou de maneira ilegal. Preocupou-me o fato de alguém ganhar R$ 480.000,00 em quatro anos e possuir apenas R$ 80.000,00. Com o tempo, dúvidas surgiram: onde realmente a prefeita de Maracaí colocou esse dinheiro? Por que, na declaração de bens, disse que tinha apenas R$ 80.000,00?

 

Obviamente não consegui encontrar respostas, mas outras perguntas me surgiram assim como surgiriam a qualquer um que sabe do envolvimento da prefeita em práticas consideradas ilegais pelo Ministério Público. Entre as tantas perguntas – e, vale ressaltar, perguntas não são nem afirmações, nem acusações – destaco: Será que a prefeita de Maracaí planejou os prejuízos aos cofres públicos e, por essa razão, tirou todo o dinheiro e todos os bens de seu nome para fugir da Justiça? Se a prefeita só tem R$ 80.000,00 como patrimônio, a quem pertence a casa em que ela mora? Ela mora de graça, paga aluguel? Pertence aos filhos? Se pertence aos filhos, de onde saiu o dinheiro para comprá-la? Além disso, a quem pertence a caminhonete – por sinal, bastante cara – na qual a prefeita desfila sua municipalidade? Quantas pessoas condenadas por improbidade administrativa, saque aos cofres públicos, desvio de dinheiro, enriquecimento ilícito integram sua equipe de governo?

 

Essas dúvidas – portanto, não são nem afirmações, nem acusações – são bastante pertinentes: o Ministério Público, os Tribunais de Contas do Estado e da União e a Controladoria Geral da União poderão rastrear a montanha de dinheiro que deveria ser retirada do patrimônio da prefeita para ressarcir os cofres públicos. Mas, como bloquear bens e patrimônio se a prefeita não tem nada? A resposta é simples. Basta os Tribunais de Contas entrarem em contato com a Receita Federal e a Receita Estadual. Uma pesquisa rápida poderá mostrar se os filhos, os genros, os netos, as noras, os parentes ou correligionários tiveram aumento expressivo no patrimônio desde que ela assumiu a prefeitura.

 

Enquanto tem gente morando de favor ou de aluguel, o dinheiro que a prefeita terá de devolver poderia ter construído dez casas populares. Enquanto tem gente sofrendo com graves problemas de saúde, falta de remédio, poucos médicos e puxa-sacos de sobra, haveria quem, da noite pro dia, tivesse comprado três carros, cinco terrenos e duas casas? Por que nem a prefeita nem seu vice-prefeito aceitaram o convite da Igreja para conversar com o povo?

 

O povo talvez não se importe com o dinheiro público. A ADPCIM se preocupa. Os primeiros passos dos próximos prefeitos de Maracaí: contratar auditorias a fim de verificar todo o dinheiro gasto pela prefeita. Cada caneta, cada litro de gasolina, cada quilo de carne ou uniforme, cada remédio ou verba repassados ao hospital e ao SASSOM precisam ser fiscalizados.

 

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo desmascarou, por meio de relatório oficial, o discurso dos vereadores Maurício Sergio Justiniano (PSIU) e Francisco Cassachia Neto sobre a legalidade das consultorias contratadas pela prefeitura: durante a gestão de Elizabete de Carvalho, as consultorias levaram mais de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Uma dessas consultorias reuniu o povo no Centro Cultural para tratar das casas populares. Cadê as casas?

 

Na próxima semana, vamos falar sobre como o Tribunal de Contas desmantelou o discurso de Psiu e Cassachia e explicar por que, até agora, não se construiu nenhuma casa popular em Maracaí.

 

 

Vicentônio Regis do Nascimento Silva (www.adpcim.blogspot.com) é presidente da Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí (ADPCIM).

 

*Publicado originalmente no jornal O Regional (Tarumã – SP) de 8 de setembro de 2012.

Um comentário:

  1. É POR ESSAS E MUITAS OUTRAS QUE TE ADMIRO.

    NÃO ESTÁ FALANDO DE PARTIDO E NEM DE PESSOAS E SIM DE BENS MATERIAIS QUE PERTENCEM AO BEM DA COMUNIDADE.

    AOS GOVERNANTES SÓ RESTA PRESTAR CONTAS PARA QUE EU POSSA CULTIVAR MEU RESPEITO POR ELES, CASO CONTRÁRIO MEU RESPEITO VALE MUITO PARA EU PODER DEPOSITAR EM QUALQUER PESSOA!

    RÚBIA ELISA CICILIATO MOREIRA

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