segunda-feira, 3 de setembro de 2012

VEREADOR SEM TAMANHO


As eleições municipais aproximam-se e, com elas, candidatos à eleição ou reeleição percorrerão as ruas em busca de votos. Alguns são conhecidos pelos trabalhos eficientes, mas existe meia dúzia de desocupados que usaram o mandato para fazer tudo, menos apresentar propostas interessantes e lutar pelo crescimento da cidade. Esse tipo é o que chamamos vereador sem tamanho – metaforicamente falando.

 

Vereador sem tamanho é o lixo humano que usa seu mandato para disfarçadamente saquear os cofres públicos. A geração de emprego e renda não se desenvolve, mas tenha certeza, barato eleitor, que ele colocou a família inteira trabalhando na prefeitura, seja diretamente por meio de concursos públicos fraudados (como aqueles, listados no “Fantástico” semanas atrás), seja indiretamente em organizações não governamentais que levam milhões de reais sem atingir suas finalidades (a única finalidade é servir de cabide de emprego – tanto cabide que chega a ser guarda-roupa).

 

Vereador sem tamanho ia todos os domingos à igreja com a intenção escancarada de enganar os fiéis, de surrupiar votos, mas foi desmascarado e, agora, na maior cara de pau, sai de casa com horas de antecedência para assistir missas, cultos e encontros em outras cidades. Por acaso, o vereador sem tamanho acha que o povo das outras cidades não reconhece de longe o lobo disfarçado em pele de ovelha, o bandido vestido de anjo?

 

Vereador sem tamanho é aquela espécie sem palavra. Mete o pau no governador e nos pedágios, entretanto mal sabe que o governador comparecerá a evento a seiscentos quilômetros para, sem pensar duas vezes, encher o tanque do carro, pagar todos os pedágios, comer em cinco restaurantes, festejar em hotel e comprar quinquilharias pela estrada. Como se não bastasse, tem a cara de pau de sair na fotografia, dentes arreganhados, abraçado a quem?

 

Vereador sem tamanho é espécie de vira-lata que usa a tribuna da Câmara para falar de tudo – principalmente defender bandidos e desvios milionários – e, em nenhum momento, apresenta projetos importantes. Conclama que vai defender os direitos das mulheres, contudo nem sabe quais são eles. Afirma que fará reformas administrativas, entretanto é incompetente demais para fixar metas de aperfeiçoamento.

 

Sua incompetência alastra-se não apenas aos fatores legislativos, mas também o impede de transitar no poder executivo e na conquista amorosa. O chefe não atende seus telefonemas, ignora seus apelos e o ridiculariza entre os comparsas. Qualquer cachaceiro despreparado é escolhido para substituí-lo. Até o pedido de serviçais é prontamente atendido. O vereador sem tamanho – implora, pede, chora, ajoelha-se – solicitando empreguinho para a amante, conquistada com promessas de se tornar secretária de qualquer pasta, mas tem seu pedido negado e vai, de bar em bar, desabafar nos ombros de quem nem conhece. Acha que os clientes são obrigados a compartilhar ou compreender seus fracassos como vereador, seus insucessos como articulista político, seus frustrados métodos amorosos?

 

Vereador sem tamanho sempre faz um discurso, mas, na prática, faz outra coisa. A ficha-limpa foi aprovada por lei federal e, recentemente, incorporada à Constituição do Estado de São Paulo e à do Rio de Janeiro. O que se pode esperar de quem recorre aos esquemas para arrumar empregos para os familiares enquanto a população sofre sem condições de sobrevivência?

 

Vereador sem tamanho não sabe explicar o aumento de seu patrimônio. Ganha R$ 800,00 de empregado aos quais acrescenta R$ 1.200,00 do salário de vereador. Como comprou carro importado de R$ 120.000,00? R$ 120.000,00 é o preço à vista. Geralmente os clientes compram em quarenta e oito prestações de R$ 1.800,00. Se o vereador ganha R$ 2.000,00 brutos (quando retirados INSS e outros descontos, os ganhos não superam R$ 1.700,00), como consegue pagar prestações de R$ 1.800,00? Como faz para pagar água, energia elétrica, supermercado, gás, conta de telefone, roupa, remédios, as prestações do carro da amante? O eleitor sabe de onde sai o restante do dinheiro para sustentar o vereador sem tamanho?

 

Dom Eugênio Salles, Dom Helder Câmara e Gandhi eram fisicamente baixos, mas inatingivelmente altos na defesa da honestidade, da transparência e dos direitos humanos. Tem gente que, mesmo candidato a vereador, não cresce nem física nem moralmente, enchendo de imundície a tribuna da Câmara e demonstrando seu fracasso, até mesmo como homem, ao recorrer ao dinheiro público para conquistar amante. Abra os olhos eleitor, pois ele vai visitá-lo nas próximas semanas. Aliás, você conhece algum vereador assim?

 

 

Vicentônio Regis do Nascimento Silva (www.adpcim.blogspot.com) é presidente da Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí (ADPCIM).

 

 

*Publicado originalmente no jornal O Regional (Tarumã – SP) de 1 de setembro de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário